A arte é a prova de que a vida não basta!

terça-feira, 13 de agosto de 2013

De Borracha

1
vagabundos nós:
classe meia boca, que
mediana
nunca foi atrapalhada
(nem atrapalhou)

vagabundo eles
de morar em favela são culpados

2
se a bala de borracha machuca
a morte,
que é de aço,

fere

3
na multidão insana
das palavras (ões)
alguns por cento doem

4
os suspeitos
morrem subindo a ladeira

5
agora, de vez,
o cala boca voltou

no morro
ele nunca calou

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Procissão

Na missa o padre canta em excelso latim
e a procissão anda
cega
surda
muda
como um rebanho bem apascentado
para a boca do diabo
sem saber que pecado purgar.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Quando o coração fala a cabeça tem que funcionar

Durante o começo das manifestações eu fui um dos bem empolgados brasileiros que queriam ir às ruas e gostaria muito que tudo desse certo. Certo, e agora?
Quero chamar a atenção para uma coisa que parece que todos estão buscando compreender, mas que ninguém conseguiu explicar, eis minha contribuição:
Há anos atrás, um cara chamado Sérgio Buarque de Holanda (sim, ele é o pai do Chico Buarque!), em seu mais conhecido livro, uma vez que ele era um sociólogo (pessoa que estuda a sociedade), disse que o povo brasileiro é um povo que se comporta em suas relações guiado pela afetividade que a relação gera nele (povo brasileiro). Ele chamou essa característica de cordial, ou seja, nos relacionamos pelo o que o coração  nos manda fazer. Lembra das novelas, e como elas movem milhões de brasileiros emocionados com as histórias?
Bem, essa era uma teoria, pelo menos pra mim, ainda duvidosa, mas que valia a pena ser lembrada nessa ocasião. Por que?
Os milhares, ou milhões (sabe-se lá o número!) de pessoas que saíram de suas casa e foram protestar por melhores condições de vida, e isso inclui a qualidade do transporte público, a participação política e o fim dos desmandos dos governantes, estavam ali por um motivo que parece estar em todas as bocas: indignação.
Sim, os brasileiros estão indignados, tristes, humilhados, frustados e uma outra série de sentimentos confusos que não sabemos definir exatamente. E mais eles estão felizes por poderem lutar, pela fé que conseguiram recuperar e pela confiança que sentem com tanta gente do lado deles.
E é aí que temos que parar para raciocinar. Tudo que se tem falado sobre as características dessa manifestação parece intimamente entrelaçado com uma única corrente: sentimento! Lembra da teoria do papai do Chico Buarque? Sim, o que estou falando é que estamos sendo levados por uma onda de sentimentos, e que todos eles são legítimos, concordo com todos, mas eles escondem uma ameaça.
Falamos que as novelas parecem arrastar as emoções de milhões de brasileiros, o que prova que nossos sentimentos podem ser moldados por várias correntes, por um sorriso, por uma novela, por um abraço, por uma reposta mais negativa, enfim, por todo tipo de coisa.
Vamos pensar um pouco: a maioria dos brasileiros, infelizmente, não procurou, durante o tempo anterior às manifestações, um pouco de conhecimento sobre a história dos movimentos sociais, a história política brasileira, o que realmente significa ser de direita ou de esquerda, e uma série de nomes e conceitos que aparecem na nossa frente e são motivos de desentendimento entre os manifestantes.
O que essa cena pode gerar é o maior problema: nós, brasileiros, queremos tomar partido das lutas, mas não sabemos nada sobre elas, ou sabemos muito pouco. É preciso, para aqueles que desejam continuar lutando, uma nova postura diante desses assuntos, postura que os levará a ler sobre os partidos (PT, PSDB, PMDB, PSTU, DEM, PSC, PV, entre outros), é obrigação de quem quer ficar consciente sobre as lutas que isso seja feito. Estudar sobre a história dos movimentos sociais: sem-terra, sem-teto, feminista, homossexuais, negros e vários outros. Ler sobre a história política do Brasil: o que realmente foi a ditadura, o governo Vargas, a república café-com-leite, e outras coisas. 
Nossa! Precisamos saber tudo? Não, mas temos que ter informação o suficiente para podermos tomar partido com segurança. Para sabermos pelo o que estamos lutando. Não sermos levados pela emoção, por um achismo perigoso demais se tratando de política.
Imaginem bem, uma parte dos manifestantes está se voltando contra a Dilma. É lógico que eles podem reivindicar isso, porém, mudar um único governante fará toda a corrupção se acabar? Percebem como nos deixamos levar por emoções com facilidade? Se, depois de estudar um pouco de política, formos à favor de derrubar o governo Dilma, que seja feito. Mas não acho que uma pessoa precisa ser demonizada por todos os governantes do país. O governo PT foi tão corrupto quanto os outros governos, não podemos ter memória curta!
Ser contra um partido ou bandeiras também é problemático. Eu não faço parte de nenhum e também os acho bem corruptos ou com ideologias problemáticas, mas eles têm direito de se manifestar. Nenhum deles é o líder do protesto, mas todos serão aceitos até que demonstrem querer tirar proveito, se mostrarem tal interesse, que façam sua própria manifestação.
Nossa revolta (outro sentimento) tem que passar por uma filtro de pensamento lógico. Fomos por muito tempo educados por uma parte da mídia que queria que achássemos que os comunistas comiam criancinhas. Eu não sou comunista, mas tenho amigos que são e eu ficaria muito tranquilo se alguns deles se tornassem políticos.
Nossos sentimentos foram educados por músicas dor de corno e novelas que nos alienavam. Não podemos acreditar somente neles agora, este é um momento muito importante para que nos levem pelo coração. Quando a Globo começa a falar que a revolta é contra o governo, em quem todo mundo pensa? Na presidenta, e olha que curioso, qual é partido mais odiado da rede Globo? O PT. É disso que to falando, do risco de sermos levados por sentimentos que nem sempre condizem com a realidade geral.
Fomos despertados pelos sentimentos, mas depois de despertos, temos que agir pela razão.
Ah! Patriotismo também é um sentimento!
Que possamos fazer nossa parte.

Ricardo Ibrhaim.  

terça-feira, 4 de junho de 2013

Situações

o defeito
é perfeito
equaliza

a procura
valoriza

o embate
só repara
na conquista

as mãos
encontram , se apertam

e a vida é uma bosta
não pra quem pergunta por ela
mas pra quem já tem as respostas.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Refeição


-mas eu quero você do meu lado!!!

- mas com você do meu lado não consigo te ver direito!

-que não consegue? é só virar a cabeça.

-mas incomoda, eu prefiro olhar de frente pra você.

-mas todo casal que eu conheço fica um do lado do outro!

-mas eu não preciso fazer que nem todo mundo! sua mãe não te ensinou isso?

-mas foi ela mesma a primeira a notar que não sentamos um do lado do outro!! você entende a
complicação de explicar pra ela o porquê de sentarmos de frente? não consegue né? só quer
seguir suas ideias sem nexo!

-mas eu já ando do seu lado! tem uma hora que sinto falta de ver seu rosto, de ver você!
sinto falta de olhar e lembrar de você! não na hora que estamos quietos, acabamos por nos
beijar, mas na hora que posso parar no meio do dia e te olhar, mesmo com mil coisas pra 
fazer.

-agora só falta você querer andar de frente pra mim. 

-não, seria imprudente, não conseguiríamos chegar aonde queremos, nos atrapalharíamos e 
ficaríamos atrapalhando a calçada. seria engraçado, mas não seria legal!

-já sei! nós poderíamos tirar a mesa! ficar mais perto, eu ficaria quase de lado, quase
de frente! de canto!

- tirar a mesa? você estava reclamando agora mesmo do estranhamento das pessoas quando nos
sentamos de frente, e agora quer sentar sem mesa? e outra, a mesa nos afasta o bastante pra
que eu te veja e poder fazer minhas refeições sem maiores estragos, você sabe o desastre que
sou. por outro lado tirar a mesa me permitiria te ver inteira, sem barreiras. boa ideia, vamos
tirara mesa, vamos sentar como quisermos!

-não! você é doido? foi só uma brincadeira. prefiro ficar de frente e com a mesa do que 
tirar a mesa e ser diferente de todos. todos ficariam nos olhando e eu não conseguiria olhar 
mais nada. ai que vergonha!

-eu sabia que você não aceitaria. tem muito medo dos outros e a mesa, neste caso, te garante a
simpatia dos outros. vamos ficar assim, de frente, nos olhando. 

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Amorzinho sem drama?


Saber de você
se,
na possibilidade de ser, 
já era amor
foi encanta-dor

bruto e abrupto
é morte além de vida
bruto abrupto
o silêncio na boca aberta

de repente sem hesitação
brutalmente esgarça sentimentações
dos sentidos vinculares
das matrizes sen-ti-mentiras

o vazio do nada pra sempre
a falta eterna
abupta
piscada
acabou.