A arte é a prova de que a vida não basta!

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Quando o coração fala a cabeça tem que funcionar

Durante o começo das manifestações eu fui um dos bem empolgados brasileiros que queriam ir às ruas e gostaria muito que tudo desse certo. Certo, e agora?
Quero chamar a atenção para uma coisa que parece que todos estão buscando compreender, mas que ninguém conseguiu explicar, eis minha contribuição:
Há anos atrás, um cara chamado Sérgio Buarque de Holanda (sim, ele é o pai do Chico Buarque!), em seu mais conhecido livro, uma vez que ele era um sociólogo (pessoa que estuda a sociedade), disse que o povo brasileiro é um povo que se comporta em suas relações guiado pela afetividade que a relação gera nele (povo brasileiro). Ele chamou essa característica de cordial, ou seja, nos relacionamos pelo o que o coração  nos manda fazer. Lembra das novelas, e como elas movem milhões de brasileiros emocionados com as histórias?
Bem, essa era uma teoria, pelo menos pra mim, ainda duvidosa, mas que valia a pena ser lembrada nessa ocasião. Por que?
Os milhares, ou milhões (sabe-se lá o número!) de pessoas que saíram de suas casa e foram protestar por melhores condições de vida, e isso inclui a qualidade do transporte público, a participação política e o fim dos desmandos dos governantes, estavam ali por um motivo que parece estar em todas as bocas: indignação.
Sim, os brasileiros estão indignados, tristes, humilhados, frustados e uma outra série de sentimentos confusos que não sabemos definir exatamente. E mais eles estão felizes por poderem lutar, pela fé que conseguiram recuperar e pela confiança que sentem com tanta gente do lado deles.
E é aí que temos que parar para raciocinar. Tudo que se tem falado sobre as características dessa manifestação parece intimamente entrelaçado com uma única corrente: sentimento! Lembra da teoria do papai do Chico Buarque? Sim, o que estou falando é que estamos sendo levados por uma onda de sentimentos, e que todos eles são legítimos, concordo com todos, mas eles escondem uma ameaça.
Falamos que as novelas parecem arrastar as emoções de milhões de brasileiros, o que prova que nossos sentimentos podem ser moldados por várias correntes, por um sorriso, por uma novela, por um abraço, por uma reposta mais negativa, enfim, por todo tipo de coisa.
Vamos pensar um pouco: a maioria dos brasileiros, infelizmente, não procurou, durante o tempo anterior às manifestações, um pouco de conhecimento sobre a história dos movimentos sociais, a história política brasileira, o que realmente significa ser de direita ou de esquerda, e uma série de nomes e conceitos que aparecem na nossa frente e são motivos de desentendimento entre os manifestantes.
O que essa cena pode gerar é o maior problema: nós, brasileiros, queremos tomar partido das lutas, mas não sabemos nada sobre elas, ou sabemos muito pouco. É preciso, para aqueles que desejam continuar lutando, uma nova postura diante desses assuntos, postura que os levará a ler sobre os partidos (PT, PSDB, PMDB, PSTU, DEM, PSC, PV, entre outros), é obrigação de quem quer ficar consciente sobre as lutas que isso seja feito. Estudar sobre a história dos movimentos sociais: sem-terra, sem-teto, feminista, homossexuais, negros e vários outros. Ler sobre a história política do Brasil: o que realmente foi a ditadura, o governo Vargas, a república café-com-leite, e outras coisas. 
Nossa! Precisamos saber tudo? Não, mas temos que ter informação o suficiente para podermos tomar partido com segurança. Para sabermos pelo o que estamos lutando. Não sermos levados pela emoção, por um achismo perigoso demais se tratando de política.
Imaginem bem, uma parte dos manifestantes está se voltando contra a Dilma. É lógico que eles podem reivindicar isso, porém, mudar um único governante fará toda a corrupção se acabar? Percebem como nos deixamos levar por emoções com facilidade? Se, depois de estudar um pouco de política, formos à favor de derrubar o governo Dilma, que seja feito. Mas não acho que uma pessoa precisa ser demonizada por todos os governantes do país. O governo PT foi tão corrupto quanto os outros governos, não podemos ter memória curta!
Ser contra um partido ou bandeiras também é problemático. Eu não faço parte de nenhum e também os acho bem corruptos ou com ideologias problemáticas, mas eles têm direito de se manifestar. Nenhum deles é o líder do protesto, mas todos serão aceitos até que demonstrem querer tirar proveito, se mostrarem tal interesse, que façam sua própria manifestação.
Nossa revolta (outro sentimento) tem que passar por uma filtro de pensamento lógico. Fomos por muito tempo educados por uma parte da mídia que queria que achássemos que os comunistas comiam criancinhas. Eu não sou comunista, mas tenho amigos que são e eu ficaria muito tranquilo se alguns deles se tornassem políticos.
Nossos sentimentos foram educados por músicas dor de corno e novelas que nos alienavam. Não podemos acreditar somente neles agora, este é um momento muito importante para que nos levem pelo coração. Quando a Globo começa a falar que a revolta é contra o governo, em quem todo mundo pensa? Na presidenta, e olha que curioso, qual é partido mais odiado da rede Globo? O PT. É disso que to falando, do risco de sermos levados por sentimentos que nem sempre condizem com a realidade geral.
Fomos despertados pelos sentimentos, mas depois de despertos, temos que agir pela razão.
Ah! Patriotismo também é um sentimento!
Que possamos fazer nossa parte.

Ricardo Ibrhaim.  

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