A arte é a prova de que a vida não basta!

domingo, 23 de outubro de 2011

Eu tenho um Deus
isto é meu problema,

humanidade impura
de uma vida imposta,

crer ou não crer em Deus
sigo este dilema.

No meio-espelho de Marx
me vejo quebrado
pois agora vemos como por espelho
e dificilmente nós veremos por inteiro
era criança e não aprendi
a escola não ensinou
não cresci na cultura de bobos.

Eu tenho um Deus
e minhas mãos estão sujas
da morte eterna.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Pound já dizia:

'make it new' moço!


ou seja,


Lavou tá novo!

Caos Íntimo Cálice

Do caos íntimo do eu
do sangue frio aqui doeu a marca
de ser dejeto ou objeto
em relação às relações.

Afasto meu cálice
pra que só bebam vida plena
(que sua alma não seja pequena)
e a minha seja não.

Saída fácil
fugir do erro não acertando
Saída errada
mas por enquanto.

A vida vazia do eu que não quero.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

100/sem

arrasta essa massa de verso
de vida de sonho sentido
em meses de paz mascarada
transcende esta tua paixão

que o sonho, talvez, esteja no travesseiro

encara de vez a fraqueza
copula com o meio que insiste em levar
mesmices em uma monocórdica missa
exige o preço dobrado do amor
pois a vida acaba com o olho fechado
e Jesus veio te salvar da morte, não da vida

um momento de mil
nuca será vários de sem






domingo, 3 de julho de 2011

Perceber

Quando comecei a entender que as almas são uma variedade de coisas, e que essas almas estão aí, tocando minh’alma, e quando parei de conceituar as coisas, que não passam de coisas, e porque essas relações me atravessam e me transformam, foi nesse momento que percebi minhas responsabilidades. Foi nesse exato momento que tive a maior vontade de viver, que procurei os cheiros e sua embriaguez, que cacei as cores e suas tonturas, foi nesse momento que desliguei toda percepção tosca, e que no mesmo momemnto pude perceber tudo toscamente vivo, e que essas sensações me eram felizes e várias e simples, simplesmente complexas e inteligíveis, e as pessoas e suas várias coisas, e os sentidos e minhas várias felicidades. Toda explosão de imagens sem nenhuma circusntância. Acho que foi aí que aprendi a amar.
Amei os bichos, as aves – que me parecem outra espécie de bichos -, amei as escritas, e também as vozes, as vozes mais altas e alegres, as vozes quase inimagináveis de gente alta que fala alto. Amei os parentes, e descobri porque amo meus pais. Amei as crianças e suas fragilidades frágeis. Amei as conversas no fundo de quintal com alguém tão natural e cotidiano quanto o sol, como as estrelas, que vivas no céu brilham quando possível, e a vida de vez em quando é assim, quando é possível. Amei as nuves, as passageiras e as que trazem chuvas. Amei as pessoas que são como nuvens.
Olho pro céu e a vida continua passando, a terra não é mais o centro e tudo bem se é assim, o mundo vai continuar girando se meus olhos ficarem vidrados no espelho. Existe algo fora que preciso descobrir, pois descobri que só a razão não dá conta, nem tudo será dito, mas tudo terá seu lugar, nem tudo vai, mas muita coisa vai ficar.
A vida é um elástico que vai, que muda de forma, que prometia desde o princípio, que rompe limites, mas que acaba por ter o mesmo material: gente.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Esgotamento

até levar isso, onde eu vou?
até isso, eu vou levar onde?
até onde eu vou levar isso?
eu vou onde até levar isso?
até onde eu vou levar?
até isso eu vou levar
onde eu vou levar
isso eu vou levar
onde até eu?
isso até onde
isso levar eu
eu levar até;
eu até isso,
onde levar
até onde?
até isso,
até eu,
levar,
isso,
até,
eu..

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Em construção

Onde estamos? Donde fomos parar? Cadê a nossa amizade que se foi não por briga, por mágoa, quer dizer, a mágoa de não estar perto, de não ouvir mais seu sorriso de parar pela metade. Queria ouvir todos os sorrisos juntos, todas as vozes de êxtase, de alegria ou muito de vez em quando de tristeza, tristeza que me invade e me aperta, que deixa as nuvens longe, que desfazem os desenhos no céu.
Um tempo que agora parece muito melhor, porque eram vocês, porque sei o que queriam, que escolhemos caminhos diferentes e que daqui a pouco nossas lembranças vão desafogar, porque está muito perto, faz pouco tempo, porque ainda dá tempo de voltar.
Olhar as fotos suas não é boa escolha, não consigo fugir das imagens que dizem os olhares, e as sensações que mostram os reflexos. Nós não temos mais direto a nós, parece que não temos mais direito a rir igualmente, da mesma coisa, com os mesmos motivos, pelos segredos sempre compartilhados com todo mundo.
Vamos prometer uma coisa...
No fim da vida, as fotos serão em preto e branco, só pra dizermos pra todo mundo que tudo já passou, pra podermos colorir as lembranças do jeito que sentirmos.

Destino da vida do homem.

Por onde o destino
do Homem que é vida?
por onde que a vida
carrega o destino

do Homem que é homem?
Após outros homens
que perto da vida
carregam destinos

que perto do Homem
por onde sua vida
carregam os homens
que perto do Homem
carregam a vida.

Me pergunto o destino
de Homem sem homens
por perto na vida.

Procuro a vida
dos destino dos homens
por perto da vida
do Homem, o destino

de uma qualquer vida
dum qualquer destino,
junto a outros homens
carregando a vida.

terça-feira, 5 de abril de 2011

RISCO-PEDRA

SUA VOZ PERCORRENDO 
MEU CORPO EM CIMA VELOZ
DO TATO, DA BOCA O CHEIRO
A MÃO MISTURADA
NO FUNDO DO SOPRO
EXERCENDO EM SEU CORPO DE DEUSA NASCENDO
BRINCANDO EM BAIXO
ROMPENDO, GRITANDO
O FOGO DA VOZ
COMEÇA ENTRE A FOZ E O RICO-PEDRA
METAL DURO QUE CEDE A FLOR FEITA D'-AGUA
DERRAMA ASSIM O MEL DA PURA FLOR
PEQUENA MORTE EM VIDA PURA PAZ
QUE ASSIM SE ACABA E DORME
ENTRE NINHOS  DE USOS E ASSOMBROS.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Pontes

a Alexandre Faria

A ponte que liga um membro,
das pontes que são sentimento
e os membros ligados a outros,
de outros que voam ao relento.

No vento que deixa saudade,
que bate e leva uma parte,
que parte pra longe co´vento,
que brinca de una-e-separe.

Da volta do membro distante
no encontro do abraço apertado
O aperto que dá no meu peito,
eu peito e ando sem lado.

Mas nunca no mundo esqueço
do abraço que um dia me deu,
do vento que leva saudades
do membro, da vida, do adeus.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Tô afim de um novo samba antigo...
um que não revele os sentimentos mais baixos
de almas mais baixas,
de povo oprimido.

Tô pagando pra ver um samba colorido
com tons de cinza esbranquiçado,
que não fale o mesmo
mas que siga o povo.

Não sei muito bem meu bem,
acho que tô afim de um samba meu.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Isaías 9, Teresópolis 130*

 "E um menino nos nasceu, e o governo está sobre o seus ombros", e o desespero gera a esperança, e no desespero nasce a esperança:

Quando as casas já estavam caídas, quando os sepulcros cheiravam a metros de distância, quando o mundo parecia acabar, e pra algumas pessoas ele acabou - e o mundo humano é a percepção da existência - quando essa mesma percepção e essa mesma existência se findaram, uma jovem sem marido deu a luz. E quando a cidade estava cheia e em caos, na grama do campo de futebol (no país do futebol), uma jovem sentia dores de parto, e a cidade sentia dores de partidas, e um país sentia dores de injustiças, e o mundo era cheio de injustiças.
Quando um menino falou que o mundo parecia estar acabando, vários laços acabaram, vários lares acabaram e várias vidas acabaram. A água da vida desceu e a terra desceu junto dela, e os olhos desceram junto, e as lágrimas caíram junto e as casas caíram juntas e um país caiu junto. E tudo isso se repete todo ano, num país que sempre é o país do futuro, e essa frase sempre é falada todo ano, e esse país se repete todo ano, só os alunos que repetem não repetem. A multidão com fome será alimentada por mensais messias da pobreza.
E o menino não foi anunciado a jovem, não sei se o pai não sei se o filho.

*esse texto foi inspirado pelas tragédias na região serrana do estado do rio de Janeiro; e pelo fato de uma jovem de apenas 15 anos ter entrado em trabalho de parto durante os resgates, sendo socorrida em um campo de futebol pelo helicóptero de uma emissora de tv.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

saudade da vida que era simples
da vida que era assim:


de cadim em cadim
de rizim em rizim


pra parar logo aqui
pra sentir saudades de mim...de você


e se alguém lê? 
gostar disso e reter?


olha pra trás e vê


a saudade simples...

sábado, 8 de janeiro de 2011

Sonhos não envelhecem,
homens são limitados,
a vida era pra ser infinita,
mas 
no único sono sem sonhos


os mortos vivem, 
as saudades vibram,
os choros vêem
o "v" que era de valor
e não de vingança.


ser o que, quando?
grão demais pra vestir o sol,
provar o sal do mundo,
espantar o mau
e não ser igual.


as vontades ficam,
o olhar se fecha,
a voz se esquece,
somos imagens em paredes
nas estantes,
na mesinha de centro
comprada com tanto suor.


Ao pegar a foto 
alguém vai rir chorando;


quem era? diz o estranho.


sem medo de acabar com isso:
os meus sonhos morrem comigo...