A arte é a prova de que a vida não basta!

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Isaías 9, Teresópolis 130*

 "E um menino nos nasceu, e o governo está sobre o seus ombros", e o desespero gera a esperança, e no desespero nasce a esperança:

Quando as casas já estavam caídas, quando os sepulcros cheiravam a metros de distância, quando o mundo parecia acabar, e pra algumas pessoas ele acabou - e o mundo humano é a percepção da existência - quando essa mesma percepção e essa mesma existência se findaram, uma jovem sem marido deu a luz. E quando a cidade estava cheia e em caos, na grama do campo de futebol (no país do futebol), uma jovem sentia dores de parto, e a cidade sentia dores de partidas, e um país sentia dores de injustiças, e o mundo era cheio de injustiças.
Quando um menino falou que o mundo parecia estar acabando, vários laços acabaram, vários lares acabaram e várias vidas acabaram. A água da vida desceu e a terra desceu junto dela, e os olhos desceram junto, e as lágrimas caíram junto e as casas caíram juntas e um país caiu junto. E tudo isso se repete todo ano, num país que sempre é o país do futuro, e essa frase sempre é falada todo ano, e esse país se repete todo ano, só os alunos que repetem não repetem. A multidão com fome será alimentada por mensais messias da pobreza.
E o menino não foi anunciado a jovem, não sei se o pai não sei se o filho.

*esse texto foi inspirado pelas tragédias na região serrana do estado do rio de Janeiro; e pelo fato de uma jovem de apenas 15 anos ter entrado em trabalho de parto durante os resgates, sendo socorrida em um campo de futebol pelo helicóptero de uma emissora de tv.

2 comentários:

  1. Muito bacana o texto,mas faz doer a cabeça e o coração. Tomara que sempre tenhamos enxaquecas.

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  2. É... Que tenhamos enxaquecas até que os motivos da dor passem. Amém!

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